Morbid Visions, do Sepultura: portal para um mundo alternativo.
Por: Marcelo Mac Cord
No Brasil, os anos 1980 ficaram conhecidos como "década perdida". O país estava estagnado economicamente. A ditadura civil-militar ainda dominava corações e mentes de muitos brasileiros. Apesar da instabilidade conjuntural, os
jovens mais pobres, filhos da classe trabalhadora, tinham alguma esperança no
processo de redemocratização, mesmo que o horizonte fosse pouco
animador... A escola pública consolidava uma fase de sucateamento, a universidade pública era destinada aos privilegiados e a falta de oportunidades no mercado de trabalho impedia que a garotada conquistasse o primeiro emprego.
Nos subúrbios e favelas do Rio de Janeiro, nos anos 1980, os filhos da classe trabalhadora enfrentavam mais um problema social: o crescimento do crime organizado vinculado ao tráfico de drogas. As conjunturas nacionais permitiram que a bandidagem seduzisse uma série de meninos e meninas ávidos por autonomia financeira. Em seus espaços de sociabilidade, os indivíduos que entraram na "firma" conquistaram status, dinheiro, roupas de marca, respeito, poder e autoestima.
Os jovens cariocas mais pobres, que conseguiram escapar dessa maldita armadilha, encontraram outro grande desafio. A grande mídia apresentava em sua programação um padrão estético burguês, afinado com os bairros "descolados" da zona sul. Roupas, relógios, tênis, entre outros produtos caríssimos, eram inacessíveis para os bolsos da classe trabalhadora. Muitos filhos pressionavam seus pais para comprá-los, desejando aceitação e destaque entre seus amigos e colegas.
Entre a cruz e a espada, pessoas como eu, adolescentes na "década perdida", encontraram nos movimentos punk e headbanger uma identidade alternativa, uma forma de defesa pessoal em grupos alternativos. Não éramos nem bandidos e muito menos "playboys". O disco Morbid Visions, do Sepultura, lançado em 1986, foi o portal que me permitiu negar dois mundos que queriam me oprimir. Dois mundos que não queria participar.
Muito bom o artigo. Além da capa do disco ter servido como uma negação a hipocrisia religiosa.
ResponderExcluirRapaz a escola pública ainda não saiu do ferro velho hahahaa
ResponderExcluirRapaz essa coluna não é só uma aula de rock, é uma aula de Brasil =]]]
CURTI!
Limerique
ResponderExcluirMuito bom esse Mac Cord, Marcelo
Antenado e radical com pedicelo
Colocando dedo na ferida
Terá missão cumprida
Quando bater com vara de marmelo.
Adorei!!! Haahahahahahahaha!!!
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