Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O FOTÓGRAFO


Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotogafei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim cheguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.


Manoel de Barros

4 comentários:

  1. Belíssima fotografia, que apenas a lente de um poeta muito sensível consegue filtrar!!!

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  2. Olá, como está?

    Não sei se se recorda de mim, sou a autora do blogue "Não procurei pelos teus olhos", pus esse blogue privado pois faz parte do passado e criei agora um novo, ei-lo:

    http://odesassossegodosilencio.blogspot.pt/

    Quando puder, e se quiser, visite. é muito bem-vindo.

    Andei afastada deste mundo mas agora pretendo voltar e começar de novo a entrar no ritmo dos blogues, lendo as novidades, comentando e etc. :)

    Beijo

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  3. Limerique

    Para o poeta tão simplesmente
    Todas essas coisas que ele sente
    Que lhe tocam o jejum
    Sejam todos ou nenhum
    São o Silêncio que está presente.

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