Nada me expira já, nada me vive ---
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro
Viajantes Interplanetários
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Além-tédio
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TÉDIO
ResponderExcluirUma vida regrada toda certinha
Pontos e vírgulas nos seus lugares
Era o que queria, era o que tinha
Sem surpresas, nada de vagares
Para todo mal o correto remédio
O qual afasta malefícios da vida
Mas nada no mundo afasta o tédio
Porque existência é via só de ida
Contudo no fim tudo dará certo
Pra cada um e pra humanidade
Enfrentar a vida de peito aberto
Em todo lugar achar felicidade
Que ela existe mesmo no deserto
Feliz é quem vive com a verdade.
Belo soneto Jair
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