Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

FILOSOFANDO Á TOA 24


SOBRE A RELAÇÃO DA MULHER COM A FILOSOFIA E A INVENÇÃO

Por: Marcos Lima

“Rebenta na febem rebelião Um vem com um refém e um facão A mãe aflita grita logo: não! E gruda as mãos na grade do portão Aqui no caos total do cu do mundo cão Tal a pobreza, tal a podridão Que assim nosso destino na direção São um enigma, uma interrogação E se nos cabe apenas decepção Colapso, lapso, rapto, corrupção? E mais desgraça, mais degradação? Concentração, má distribuição? Então a nossa contribuição Não é senão canção, consolação? Não haverá então mais solução? Não, não, não, não, não... Pra transcender a densa dimensão Da mágoa imensa e tão somente então Passar além da dor, da condição De inferno e céu, nossa contradição Nós temos que fazer com precisão Entre projeto e sonho a distinção Para sonhar enfim sem ilusão O sonho luminoso da razão E se nos cabe só humilhação Impossibilidade de ascensão Um sentimento de desilusão E fantasias de compensação? E é só ruína tudo em construção? E a vasta selva só devastação? Não haverá então mais salvação? Não,  Porque não somos só intuição Nem só pé de chinelo, pé no chão Nós temos violência e perversão Mas temos o talento e a invenção Desejos de beleza em profusão E idéias na cabeça coração A singeleza e a sofisticação O choro, a bossa, o samba e o violão Mas se nós temos planos, e eles são O fim da fome e da difamação Por que não pô-los logo em ação? Tal seja agora a inauguração Da nova nossa civilização Tão singular igual ao nosso ao E sejam belos, livres, luminosos Os nosso sonhos de nação”. (Lenine / Carlos Rennó)

A RELAÇÃO DA MULHER COM A FILOSOFIA E A INVENÇÃO

Ao fazermos um retrospecto de toda a história da filosofia não iremos encontrar nenhum grande sistema de pensamento desenvolvido por mulheres, desde o seu surgimento até os dias atuais seja na antiguidade clássica, no medievo, na era moderna ou, na contemporaneidade. Houve sem dúvida algumas mulheres que deram alguma contribuição para a filosofia, mas de tão inexpressiva os manuais de filosofia só muito raramente fazem a elas alusão. Por que não existem então mulheres pensadoras? A mim parece que a natureza não dotou a mulher da faculdade da abstração. Kierkegaard afirma “que na mulher não existe uma intelectualidade dominante”*, conseqüentemente não existem muitas mulheres também inventoras. Recorrendo a qualquer fonte de pesquisas sobre invenções em todas as épocas da história não existe testemunho de grandes invenções ou mesmo descobertas feita por mulheres, Voltaire no seu Dicionário Filosófico afirma haver mulheres sábias e guerreiras, mas nunca inventoras** . De fato se volvermos também a história das invenções não iremos encontrar qualquer contribuição significativa da mulher neste campo. Em suma, não é exagero afirmar que este é um mundo construído essencialmente por homens e para eles, que só por adaptação a mulher nele consegue viver.


A MULHER COMO SUJEITO DA HISTÓRIA


O aparecimento da mulher como sujeito da história se dá de forma extremamente rara, seu aparecimento ocorre discreta e quase imperceptível, sua participação no universo do intelecto se acontece é de modo marginal. Sobre isto escreve Giulia Sissa: “Como sujeito da história o aparecimento da mulher acontece esporadicamente, mas sempre a margem do exercício filosófico, médico, ou literário, vindo à exceção confirmar a regra da exclusividade masculina no domínio intelectual” História das mulheres Vol. II p. 79. Segundo ainda a autora, consoante os filósofos: Fílon de Alexandria, Plutarco, Platão, enquanto no homem existe a predominância do intelecto, na mulher predomina a sensação, esta capacidade de sentir estar em plena harmonia com sua natureza sexual, que é de receber em si. Talvez nesta forma passiva, que em minha visão, habita a essência feminina, resida uma capacidade de aprender e assimilar, talvez maior do que nos homens, pois ela aceita as coisas como lhe são apresentadas sem questionamentos. Se esta visão estiver correta, podemos então explicar o porquê da predominância das mulheres nos concursos, que em termos relativos tem suplantado os homens. O homem com seu cérebro especulativo, diante de qualquer ensinamento sempre questiona antes de aceitar, o que retarda o aprendizado, embora este  possa se tornar mais sólido e criativo.  


O ABSURDO CRITÉRIO DA COMPARAÇÃO


Nós seres humanos estamos a todo o momento estabelecendo comparações, sem levar em conta as singularidades de cada ser. Sempre buscamos onde este ou aquele ser vivente é superior ou inferior a outro ser vivente, este é um critério perverso, discriminatório, que lamentavelmente permeia toda a nossa forma de ver as relações entre os seres. Possivelmente esta forma de ver o mundo está ligada a idéia de competição, é como se todo o universo estivesse mergulhado em contínua guerra para saber quem é o melhor, e dentro desta visão, ser vitorioso significa destruir o outro. Segundo o poeta “A vida é combate que os fracos abatem que aos fortes e aos bravos só faz enaltecer”. Naturalmente que o poeta não indaga sobre a culpa de alguns serem fracos, mas sua colocação é como se todas as coisas dependessem exclusivamente de uma escolha. Ora, todos nós temos plena consciência de que em nossas vidas desde a concepção até a morte não temos o poder de determinação de inúmeras coisas. Ainda não somos capazes de escolher qual a cor de nossos olhos, o tipo de cabelo, a cor da pela, quem será nossos pais, nosso QI, a altura e estatura que gostaríamos de ter etc. Também não escolhemos o contexto social em que queríamos nascer, e durante toda a nossa existência ou estamos sempre em luta para nos manter dentro de determinado contexto ou lutando para alcançá-lo. Ora, nesta guerra os mais aptos sobreviverão e galgarão seus objetivos outros ficaram pelo caminho arrastando consigo o sabor amargo da derrota e o desprezo de todos. Alguns alegam: “A vida nem sempre é justa!”. A vida não é justa ou os homens a tornaram injusta? Com certeza que a vida de todos os seres humanos seria bem melhor se cada indivíduo fosse respeitado e aceito com suas virtudes e limitações. Caso a velha máxima do marxismo - De cada um segundo suas capacidades e a cada um segundo suas necessidades- fosse observado em todas as sociedades humanas, seriamos muito mais felizes.


HOMEM X MULHER


Este maldito hábito da comparação fez surgir, com o próprio ato de pensar, a idéia de escravização e dominação, posteriormente endossada pelos preconceitos religiosos, sobretudo em nossa cultura judaico-cristã***. Por que infernos temos que estar sempre estabelecendo comparações? Por que temos que comparar homens com mulheres? Porque este estímulo a competição e a guerra entre os sexos? O que existe de bom, racional, sublime, maravilhoso, nesta competição? Onde estes critérios têm promovido o amor, a harmonia, a tranqüilidade, entre os sexos?  Acredito que não se pergunta qual o melhor: o leão ou a leoa? O cão ou a cadela? O cavalo ou a égua? O gorila ou a gorila? Em fim, nós, chamadosanimais racionais, não questionamos que na natureza cada espécie animal seja macho ou fêmea tem uma predestinação e vivem harmonicamente segundo as leis da natureza. Sim, mas, os animais são irracionais! Objetem talvez. Mas que desgraça então o nosso raciocínio serve para espalhar a discórdia entre os seres ditos racionais? Bem parece ser esta a história da “inteligência humana”.  Mas não acredito que tenha de ser necessariamente assim, pelo menos, não entre homens e mulheres.


*Desespero Humano p. 50. Editora Martin Claret                                                                                                                                                   **Voltaire, Dic. Filosófico p. 254 Coleção os pensadores, 1978 São Paulo                                                                                                            ***Segundo a narrativa do livro do Gênesis Deus ao criar o homem como soberano absoluto sobre toda a criação, diz a narrativa bíblica: Então Deus disse façamos o homem nossa imagem e semelhança. Que ele reine [...] sobre toda a terra [...] submetei-a e dominai Gen. Cap. 1: 26-28
São as nossas pequenas ofensas do dia a dia que dividem as mulheres em grupos distintos: As putas e as Santas, mas o que causa essa divisão são apenas conceitos formulados por sentimentos de inveja e frustração em relação as escolhas de cada uma,uma maneira de se vestir,de ser,não pode servir de argumento pra comportamentos preconceituosos e intolerantes,o puritanismo e a hipocrisia ainda ferem e fazem novas vítimas todos os dias.Baseado nesse machismo que existe desde que o mundo é mundo a gente acaba reproduzindo os mesmos erros e justificando esses erros com os mesmo argumentos. (Edna-Dinha)


Nenhum comentário:

Postar um comentário