O Desenrolar de Uma Paixão – Parte 2
"- Todo pasará, hijo. Tu padre, tu
hermano, tu tía, tus hijos, tú. Pero el Retrato quedará. Tu envejecerás, pero
el Retrato conservará su juventud. Vamos, Rodrigo, despídete del otro. - Fez um
sinal em direção a tela. - Hoy ya estás más viejo que en el día en que terminé
el cuadro. Porque, hijito, el tiempo es como un verme que nos está a roer
despacito y es del lado de acá de la sepultura que nosostros empezamos a
podrir."
Don Pepe
Desenhos do escritor nos manuscritos de O Retrato, de 1951. Paulo Dias |
Aloha Marcianos! :D
Dando
continuidade a nossa prosa, (eu avisei que seria uma longa jornada), hoje vamos
conversar sobre O Retrato. Este volume é a sequência de O Continente e também foi dividido em
dois tomos.
Confiram
a sinopse:
Tomo
I e II–
Aqui, Rodrigo Cambará, neto* do herói capitão Rodrigo, constrói
uma imagem de político popular e generoso, enfrentando as contradições de seus
afetos privados e reafirmando sua inteireza ética e sua coragem. Homem sedutor,
sobranceiro, torna-se líder populista, amante das causas populares - e da
própria imagem. Seu projeto é modernizar tudo - da casa onde vive à cidade
inteira - e proteger os pobres. Depois de aderir ao governo de Getúlio Vargas,
muda-se para o Rio de Janeiro durante o Estado Novo. Em 1945, porém, com a
queda de Vargas e já muito doente, Rodrigo volta à cidade natal para um ajuste
de contas com a família. No fim do Estado Novo e
da Segunda Guerra Mundial, a família Terra Cambará não se reconhece no país que
ajudou a construir.
P.S*: Na
sinopse tem Neto, mas na verdade é Bisneto. O Rodrigo de O Retrato é Neto de
Bolívar Cambará e Bisneto do Capitão Rodrigo :D
O Retrato - Tomo I e II |
O
primeiro tomo li em sequência aos dois anteriores, nesse eu fiz histórico de
leitura, e não porque a leitura foi menos apaixonante! Muito pelo contrário, me
instigou a anotar cada detalhe e colocar tudo na ponta da caneta para procurar
mais informações depois.
No
entanto, as bibliotecas do sistema da UFPE entraram em greve e eu entrei no
segundo semestre para o preparo do TCC e só voltei a ler os romances da saga depois
da defesa. Foram 6 MESES (sim, você leu certo) de saudades e ansiedades pela
continuação.
Em
janeiro, faltava menos de um mês para a colação de grau e eu perderia o vínculo
com a biblioteca. Como a minha matrícula estava com a capacidade máxima de
livros (como sempre), convoquei Everson Daniel para me ajudar nessa missão e
retirar os 4 volumes restantes da saga, nada como convocar uma reunião
bibliotecária. Acabei por ler todos no
mesmo mês :D
O
reencontro com O Retrato II foi emocionante! Carregar aquela pequena pilha de
livros para casa foi sensacional. Só de imaginar o que eu tinha por descobrir,
apareceram- me estrelas nos olhos.
Nos
dois volumes nos deparamos com o lento processo de urbanização da cidade
fictícia de Santa Fé, onde vivem os Terra Cambará. As origens humildes ficaram
para trás, desde que Bolívar Cambará casou-se com Luiza Silva e o único filho
do casal, Licurgo, herdou toda a fortuna da mãe. Agora o dinheiro corre solto
na casa do Sobrado, onde nasceram Rodrigo Bisneto e Toríbio, também filhos de
Alice Terra.
O
agora Dr. Rodrigo volta de Porto Alegre cheio das empolgações e ideias
revolucionárias da juventude, acostumado à boa vida cheia de luxo e com as
facilidades da moderna capital, regada a muita boêmia, música clássica,
mulheres e saraus (fico me perguntando: a quem será que ele puxou? ¬_¬). Ao
chegar a Santa Fé, os contrastes são gritantes. Toríbio é o típico homem do
campo, ligado a sua terra e as suas raízes gaúchas, em nada se parece com o
irmão.
Naturalmente
aparecem novos personagens como o enigmático Don Pepe, artista plástico de mão
cheia, que pinta o “retrato vivo” de Rodrigo. Este passa a decorar a entrada do
Sobrado e cujo acontecimento nomeia a obra em questão. Flora Quadros, a futura
Senhora Cambará, também surge por agora. E o começo do namoro deles é lindo, dá
gosto de ver. Mas... Eu continuei em um caso
de Amor x Ódio com os “Rodrigos Cambarás” dessa família. O bisneto me provou a
veracidade do antigo dito popular: a gente só colhe o que planta. O seu Pedro
Terra é que tinha mesmo razão em me advertir e eu insistia em não lhe dar
ouvidos (assim como Bibiana o fez).
O
texto traz muitas discussões sobre o cenário político da época, ainda mais
sendo Getúlio Vargas um gaúcho, permeadas de diálogos filosóficos e reflexivos
entre as personagens.
“A democracia - replicou o
tenente de artilharia - é uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem
é essêncialmente bom e que portanto a vontade da maioria será sempre uma
expressão da verdade.”
O
Retrato, v.2, p.136
.
Ahhh,
tem também um trechinho sobre o Carnaval daqui, morri de emoção quando li,
*muitos risos*.
"- Queria que você
conhecesse o Norte - disse Rubim-, que visse o Carnaval do Recife com os seus
tradicionais blocos como os "Vassourinhas", os
"Abanadores"... E as danças! e as cantigas! O chão-de-barriga. o
frevo, o maracatu, as congadas! Aquilo é que é riqueza folclórica, seu Rodrigo.
O Bumba-meu-boi, os Pastoris, as cheganças..."
O
Retrato, v.2, p.182
Próximo
sábado teremos a terceira e última parte do desenrolar de minha paixão por esse
gaúcho arretado. Confesso que já estou com saudade! Reviver esses momentos
deliciosos de minhas leituras com vocês é uma sensação única.
Vemos-nos
próxima semana ;)
Mahalo
:*
Muito curioso saber os bastidores desta sua leitura da obra-prima de Érico Veríssimo. Li O Tempo e o Vento graças aos livros da escola em que eu estudava no Ensino Médio, bons tempos... Beijos e que venha O Arquipélago!
ResponderExcluirOi Wesley :D
ExcluirFico feliz que tenha apreciado a postagem!
Minhas escolas nunca tiveram bibliotecas, muito triste =/
Eu me valia da precária biblioteca municipal que até hoje não realiza empréstimos.
Quando conheci o sistema de bibliotecas da UFPE, foi literalmente o paraíso :D
Próxima semana, teremos Arquipélago e o meu xodó literário: Floriano. <3
Beijão
Danou-se! Só hoje me dei conta dos livros que essa menina devorou em tão curto espaço de tempo. Medo! =]]]]]]]]]]
ResponderExcluirhahahahaha :P
ExcluirBons tempos aqueles Everson, bons tempos...
:*
"Eu continuei em um caso de Amor x Ódio com os “Rodrigos Cambarás” dessa família. O bisneto me provou a veracidade do antigo dito popular: a gente só colhe o que planta. O seu Pedro Terra é que tinha mesmo razão em me advertir e eu insistia em não lhe dar ouvidos (assim como Bibiana o fez)."
ResponderExcluirHhahaha, nem me fale, dá uma angústia, uma vontade de concertar tudo, mas é assim que é mesmo nas obras do Erico e vc só se conformará quando entender seus porques, e só entenderá quando os Solos de Clarineta. Como todo bom escritor o autor diante de sua obra, é um autor diante do espelho".
Que postagem primorosa, obrigada por ela, amei ler e reler e viajar outra vez nas lembranças do tempo de leitura dessa saga.
Eu tinha 17 anos, e pedi-a para minha mãe, que me deu de formatura do ensino médio.
“A democracia - replicou o tenente de artilharia - é uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem é essêncialmente bom e que portanto a vontade da maioria será sempre uma expressão da verdade.”
ResponderExcluirO Retrato, v.2, p.136
O Erico tem mesmo muitos pensamentos desconcertantes sobre a tão vangloriada democracia. Uma vez li algo que ele disse em um de seus livros de contos que me desconcertou e me fez pensar "não é que é mesmo!" Não que ele fosse a favor do comunismo, ou socialismo, ou tirania, ou absolutismo, nada disso, rs.
O melhor do Erico é que ele, até o momento, me pareceu um grande '?'
Tente adquirir Fantoches e Outros Contos, vc irá gostar. :)
Uma abç Ialy.
Ahhhhh! Vir aqui me fez perceber o quanto estou em dívida com a minha coluna. E os seus comentários reavivaram o desejo de concluir o que comecei :D
ExcluirAinda lerei Solos de Clarineta, assim que terminar de ler todos os romances que ele escreveu. (Eu e minha mania de ordem).
Agradeço a visita, a leitura, as dicas e esses comentários tão inspiradores.
Beijinhos :*