Mamãe não era muito carnavalesca. No feriado
momesco, todos sabem, ela preferia passar os 4 dias hibernando e descansando da
sua maratona de trabalho. Pois bem, sendo assim, nunca nunquinha que ela me
comprou fantasia e me levou, toda paramentada, para frevar no carnaval. Pior,
até completar 10 anos eu, nascida na cidade do carnaval, nunca tinha ido a um
baile sequer. Pra mim, carnaval eram as transmissões na TV, um banho de bomba
d'água com ovo podre pela Vila Cardeal e, claro, as famigradas "katraias"
de Luizinho pelo Inocoop... (esse último, sem comentários) Bom, eis que fui
pela primeira vez a Olinda durante o carnaval com exatos 10 anos de idade. Não,
não foi com mamãe. Os integrantes da folia eram: Dotão, Juju (minha dupla),
papai, zezinho, césar (magro..) e, claro, tia célia (a foliã-mor)... Mamãe deu
tanta recomendação que nem me deixaram chegar perto da muvuca. Ficamos muito
bem sentados num bar olhando o passa-passa de gente fantasiada. Eu tomava minha
coca-cola atenta e encantada: pq eu nunca tinha usado uma fantasia? La pelas
tantas, indaguei lamentosa na mesa expressando a minha vontade de usar também
qualquer balangandan... e tia Célia, a foliã-mor, de pronto, se ofereceu e com
a voz já meio "poarra", perguntou: - vc quer que eu faça uma pintura no
seu rosto? (hirc!) - queeeeeero!! respondi empolgadíssima, na ideia de que ia
ganhar uma linda sombrinha de frevo multicolor na bochecha adornando o sorriso
pueril. Ela então enfiou a mão na bolsa e eu já esperava um conjunto de tintas,
quando ela resgatou de lá de dentro um batom vermelho da Avon. Esmoreci, mas
dei a bochecha à tapa, ela então segurou meu queixo, espichou o olho e zás,
mandou ver. Em 2 segundos estava pronta a pintura Celiana. Ela coçou o nariz
para baixo, deu um gole na cerveja que estava esquentando e me deu em seguida
um espelhinho. O reflexo me mostrava uma lágrima em uma bochecha e uma
interrogação, assim: "?" em outra... contemplei o meu reflexo e, sem
entender batatinhas do que o meu rosto dizia, interpelei a minha artista: - Ôoo
tia célia.. o que é isso...? Ela me olhou, coçou mais uma vez o nariz para
baixo e mandou: -Essa é uma fantasia filosófica.. de um lado vc constata
"chorando" e do outro se pergunta "porque?" ... Apenas
respondi um comprido "aaaaaaaaaahhh ta", me chequei mais uma vez no
espelhinho e fiquei lá, pensativa, derretendo no calor de Olinda, toda
besuntada de batom vermelho, mas profundamente filosófica.
Renata Santana
11/02/13 - segunda feira de carnaval
saudade da gota serena dessa danada =]]]]
ResponderExcluirGracias, Eduardo, amigo.
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