Viajantes Interplanetários

sábado, 22 de março de 2014

Sábados Vadios

Decerto que a lírica galaico-portuguesa é um marco brilhante. Decerto que quando referimos esse período referimos que a dita lírica era composta por Cantigas de Amigo, Cantigas de Amor e Cantigas de Escárnio e Maldizer. 
Contudo raramente transcrevemos as poesias que se encaixam no último grupo, gostamos apenas de as referir, e por artes de alguma moralidade obtusa, esquivarmos a sua transcrição.
Vamos então decididamente a este recanto da lírica trovadoresca.
É regra fazer-se a seguinte distinção: 

Cantigas de Escárnio - O trovador usa a crítica indirecta usando artifícios, por exemplo palavras ambíguas ou de duplo sentido.

Cantigas de Maldizer - O trovador usa a crítica directa, sem subterfúgios, a linguagem usada é rude e obscena.

Um exemplo de Cantiga de Escárnio do trovador João Garcia de Guilhade 

Dona Fea:

Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!


Um exemplo de Cantiga de Maldizer do trovador Martim Soares, transcrita para português moderno. A linguagem é directa, e crua e os alvos da crítica são prefeitamente identificados, facto que não se verificava nas Cantigas de Escárnio, em que a subtileza e ambiguidade usadas, partima do princípio que os ouvintes identificariam o alvo ou alvos da crítica:

Cantiga a Pero Rodrigues,
(Cuja mulher era acusada de um atraiçoar)
Pero Rodrigues, da vossa mulher
Não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
enquanto gozava, pelo que dizia,
muito me mostrava que era vossa amiga.
Se vos deu o céu mulher tão leal,
que vos não agaste qualquer picardia,
pois mente quem dela vos for dizer mal.
Sabei que Ihe ouvi jurar outro dia
que vos estimava mais do que a ninguém;
e para mostrar quanto vos quer bem,
fodendo comigo assim me dizia



2 comentários:

  1. A virtuosa

    Mulher de Pero Rodrigues, Maria
    Metendo-lhe os chifres ela vivia
    Na rua todos apontavam o corno
    Que, parece, na cama era morno.

    Maria, mulher com fogo no bunda,
    Trepava de segunda a segunda.
    E nada mais lhe importava afinal
    Desde que pudesse chupar um pau.

    Mas jamais esquecia seu querido
    Que a deflorou no passado, um dia
    Falava dele com olhar compungido

    De moral ilibada era aquela vadia
    Falava muito bem do corno marido
    Enquanto debaixo do amante fodia.

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