Boyhood e
Birdman
Época de carnaval coincide com a estreia
da maioria dos filmes que concorrem ao Oscar. A chamada temporada de prêmios
onde Globo de Ouro, Sindicatos, BAFTA, prêmios de críticos e a própria Academia
de Artes e Ciências Cinematográficas elegem aqueles que eles consideram os
melhores filmes do ano. Neste ano de 2015 existe a polarização do favoritismo
entre Boyhood – Da Infância à Juventude
e Birdman ou (A Inesperada Virtude da
Ignorância). Ambos trabalhos que, logo quando lançados ao circuito
comercial, foram tidos como favoritos, porém muitos julgavam que eles não teriam
força suficiente até o anúncio dos indicados destes diversos prêmios. Mas, com
a fraca oferta de bons filmes no ano passado, foram concretizando seu apelo e
mantendo o seus nomes na boca de críticos e cinéfilos até a consagração com
diversas indicações. Ambos são trabalhos pretensiosos e ousados ao mesmo tempo,
vamos qualificar esta ousadia de uma forma relativa, comparada ao que vem sendo
produzido por Hollywood nos últimos anos.
Em Boyhood pesa o fato do diretor Richard Linklater ter levado 12 anos
para produzir e filmar esta que parece ser sua obra-prima (confesso que não
gostei muito do falatório da trilogia Antes
do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol
e Antes da Meia-Noite, este último
título, exceção, ainda supera a verborragia dos filmes anteriores). A trama de Boyhood é simples, aparentemente. Acompanha
a vida de Mason (Ellar Coltrane) dos 6 aos 18 anos, o relacionamento com a mãe (Patricia
Arquette) e a amizade com o pai (Ethan Hawke), os conflitos da infância, as
descobertas da adolescência e a chegada da maturidade e da vida adulta. Talvez a
magia de Boyhood resida nesta
simplicidade, do acompanhar sutil na vida destes personagens que envelhecem
naturalmente aos nossos olhos. A identificação talvez venha também com o que
foi retratado, quem nunca viveu uma daquelas situações quando jovem, por mais próxima que
fosse da sua realidade, que atire a primeira pedra. Se Boyhood ganhar vai ser justamente pelo esforço do diretor Linklater
em concluir sua obra após tanto tempo, assumindo riscos como a desistência de
alguém do elenco ou até mesmo a confirmação da falta de talento de alguns dos
jovens atores ao longo da produção. A simplicidade aqui contrasta com os
milhões gastos e os bilhões almejados pelas superproduções de remakes e super-heróis
de HQ’s que monopolizaram a atenção dos estúdios. E que nem sempre rendem boas
estórias.
E é justamente isto o que Birdman critica. É um filme que se
passa nos bastidores de um teatro da Broadway mas que fala de Hollywood e o seu
sistema de produção o tempo todo. Riggan Thomson (Michael Keaton) quer
exorcizar o fato de ter interpretado nos cinemas um super-herói e deposita toda
a sua fé e dinheiro em uma adaptação de
um texto de Raymond Carver que ele mesmo escreveu, dirige e produz. Adaptar Raymond Carver pode ser a redenção de
Riggan, que almeja ganhar relevância no meio artístico e não ser lembrado
apenas como o cara que fez o homem-pássaro nos cinemas. A descrença em torno desse
projeto é geral e tudo em torno desta produção conspira para o erro e o
equívoco. Aqui o nome de Alejandro González Iñárritú justifica a pretensão. O
diretor mexicano nunca foi dado a tramas fáceis (desde as estórias que se
entrecruzam de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, até o drama pesado, longo, quase insuportável, de Biutiful). Birdman é um filme de egos: do protagonista que rema contra a maré
para levar adiante a peça e do diretor que gravou o filme num único
"pseudo-plano-sequência". A escolha de Michael Keaton, que já interpretou Batman no cinema duas vezes, foi uma
grande sacada. Keaton entende a ironia da situação, agarra-se ao personagem,
pois sabe que é o papel de sua vida, e mostra na tela o grande ator que sempre
foi. Os diálogos são ácidos, o humor é sutil, o elenco magistral e o trabalho
de câmera, perfeito, apesar de se fazer notar o tempo todo. A Hollywood fica o
gosto amargo de um filme criticar o próprio sistema cinematográfico americano,
pelos olhos de um mexicano, e ainda receber diversos prêmios por isso.
São dois filmes muito próximos,
independentes, que apenas denunciam (com suas particulares qualidades) o poço da mediocridade que Hollywood está
caindo com tantas adaptações de HQ’s e remakes, incapaz de produzir obras relevantes ou que, ao menos, a represente nas
grandes premiações. O lucro, que se esvai, a cada ano, o desinteresse do
público é apenas o sinal de que algo precisa mudar...
Birdman preciso terminar de assistir, porque a priori não agradou. Boyhood ainda não caiu nas minhas mãos. Gostei bastante do jogo da imitação.
ResponderExcluirEu só comecei a gostar do "Birdman" depois que fui vê-lo no cinema. Minha torcida é para ele. Gostei também de O Jogo da Imitação. Veja Whiplash, um trabalho fantástico.
ResponderExcluirMe emocionei com Selma ontem.
ResponderExcluir