& tem dias em que
é preciso botar o mundo no chão e descansar meia hora antes de pegar de novo
& não adianta
pedir a vinda do meteoro: nosso castigo é que não virá nenhum
& falta alguém
inventar pratos com base imantada para usar com bandejas de metal
& há duas coisas
que sempre dão a impressão de melhorar aquilo que acompanham: violinos e molho
vinagrete
& aquele momento
em que um cara é apanhado com a boca na cumbuca e a mão na botija
& nunca foi tão
fácil dizer que tá difícil
& achar-se
moralmente superior não difere muito de achar-se socialmente superior
& uma caixa com
um boneco-de-molas que salta e sai correndo
& condecorações
de guerra tatuadas no peito
& uma escola de
tradução onde pinturas a óleo são transpostas para xilogravuras
& posso não
morrer de pé mas vou morrer de frente
& chuva só presta
bem forte, pra gente tomar a decisão firme de não sair de casa
& todo livro de
memórias tem algo de maquiagem diante do espelho
& não gosto de
aniversários porque me parecem uma espécie de contagem regressiva
& toda campanha
política é a subida de uma montanha-russa que chega ao ponto mais alto no dia
da posse
& um museu só de
objetos aleatórios, com fichas em branco ao lado, onde caberá ao público
explicar que coisa é aquela
& certos nomes
próprios moderninhos parecem uma camisa e uma calça que não combinam
& como zumbis
fazendo fila no caixa do açougue de cérebros
& tá cheio de
gente por aí que nasceu e não sabe
& redes sociais
se alternam entre a babação-de-ovo e o linchamento gratuito
& só as grandes
catástrofes públicas são capazes de nos unir no mesmo suspiro de alívio
& de vez em
quando a gente percebe como é fácil ter certeza de alguma coisa
& duvido que
alguém fazendo as malas num dia de calor ache necessário botar casacos e lãs
& reencontrei um
amigo dos velhos tempos e só consegui identificá-lo pela arcada dentária
& o mundo tá
cheio de carrapato que só por gostar de sangue acha que é tubarão
& máquinas
caça-níqueis onde você bota uma moeda, puxa uma alavanca, e ela produz um poema
randômico e irrepetível
& ergui o
binóculo e avistei uma banquisa de gelo à deriva e sobre ela 200 ursos polares
com mochilas às costas
& quando estiver
na cama com ela não pergunte o que é o recheio daqueles travesseiros
& eu estou como
quem levou uma surra de um grupo de fantasmas
& certas pessoas
começam a decepcionar a gente já no primeiro aperto de mão
& em pleno sol do
deserto surge uma miragem de dunas de areia, fazendo crer que o deserto é maior
ainda
& não vai demorar muito até cada cidadão se transformar
no robocop de si mesmo
& quebrar um
recorde é como quebrar uma vidraça barata e botar um cristal caro no lugar
& o discurso
ideológico é uma roupa que quando o menino cresce começa a estourar nas
costuras
& tem gente que
não quer aceitar a morte e nunca foi capaz de aceitar a vida
& não sei o que
faço numa cidade onde a gente tem que dormir com as janelas fechadas e os olhos
abertos
Por: Braulio Tavares in Mundo Fantasmo
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