Viajantes Interplanetários

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Contracapa de FaceTime

&  tem dias em que é preciso botar o mundo no chão e descansar meia hora antes de pegar de novo

&  não adianta pedir a vinda do meteoro: nosso castigo é que não virá nenhum

&  falta alguém inventar pratos com base imantada para usar com bandejas de metal

&  há duas coisas que sempre dão a impressão de melhorar aquilo que acompanham: violinos e molho vinagrete
 
&  aquele momento em que um cara é apanhado com a boca na cumbuca e a mão na botija

&  nunca foi tão fácil dizer que tá difícil

&  achar-se moralmente superior não difere muito de achar-se socialmente superior

&  uma caixa com um boneco-de-molas que salta e sai correndo

&  condecorações de guerra tatuadas no peito

&  uma escola de tradução onde pinturas a óleo são transpostas para xilogravuras

&  posso não morrer de pé mas vou morrer de frente

&  chuva só presta bem forte, pra gente tomar a decisão firme de não sair de casa

&  todo livro de memórias tem algo de maquiagem diante do espelho

&  não gosto de aniversários porque me parecem uma espécie de contagem regressiva

&  toda campanha política é a subida de uma montanha-russa que chega ao ponto mais alto no dia da posse

&  um museu só de objetos aleatórios, com fichas em branco ao lado, onde caberá ao público explicar que coisa é aquela

&  certos nomes próprios moderninhos parecem uma camisa e uma calça que não combinam

&  como zumbis fazendo fila no caixa do açougue de cérebros

&  tá cheio de gente por aí que nasceu e não sabe

&  redes sociais se alternam entre a babação-de-ovo e o linchamento gratuito

&  só as grandes catástrofes públicas são capazes de nos unir no mesmo suspiro de alívio

&  de vez em quando a gente percebe como é fácil ter certeza de alguma coisa

&  duvido que alguém fazendo as malas num dia de calor ache necessário botar casacos e lãs

&  reencontrei um amigo dos velhos tempos e só consegui identificá-lo pela arcada dentária

&  o mundo tá cheio de carrapato que só por gostar de sangue acha que é tubarão

&  máquinas caça-níqueis onde você bota uma moeda, puxa uma alavanca, e ela produz um poema randômico e irrepetível

&  ergui o binóculo e avistei uma banquisa de gelo à deriva e sobre ela 200 ursos polares com mochilas às costas

&  quando estiver na cama com ela não pergunte o que é o recheio daqueles travesseiros

&  eu estou como quem levou uma surra de um grupo de fantasmas

&  certas pessoas começam a decepcionar a gente já no primeiro aperto de mão

&  em pleno sol do deserto surge uma miragem de dunas de areia, fazendo crer que o deserto é maior ainda

& não vai demorar muito até cada cidadão se transformar no robocop de si mesmo

&  quebrar um recorde é como quebrar uma vidraça barata e botar um cristal caro no lugar

&  o discurso ideológico é uma roupa que quando o menino cresce começa a estourar nas costuras

&  tem gente que não quer aceitar a morte e nunca foi capaz de aceitar a vida


&  não sei o que faço numa cidade onde a gente tem que dormir com as janelas fechadas e os olhos abertos


Por: Braulio Tavares in Mundo Fantasmo

Nenhum comentário:

Postar um comentário