O Dom de ser Casmurro
Voltei!...
De fato, assiduidade não é o meu forte. Mas vamos lá, prossigamos. Hoje, por motivo que me foge a razão, resolvi falar sobre uma obra literária que muito me fascina, e acredito que a muitos outros. Dom Casmurro é uma obra encantadora, não apenas por lançar visão sobre as idéias e costumes de uma sociedade aristocrática em uma cidade com tantas controvérsias como o Rio de Janeiro do século XIX, mas também pela inovação do autor em estabelecer uma relação intimista com o leitor, quando, por exemplo, quebra a quarta parede. Juntando-se a esses pequenos aspectos e vindo somente a acrescentar a obra, está o que considero o maior mistério da literatura nacional, quiçá do mundo:
Capitu!!? Fez de nosso malfadado Bentinho, um homem corroído pela dúvida, por de fato ter agido conforme as suspeitas do narrador. Ou pelo contrário o narrador se fez casmurro pela inconstância de seu caráter? Trocando em miúdos, Bentinho carrega em sua casmurrice um par de córneos?
Pois bem, a intenção não é resolver tal mistério, até porque creio eu não se poderá obter essa resposta a menos que se reúna o pó do Bruxo do Cosme Velho, e se lhe aplique alguma mágica que lhe reanime a genialidade. A intenção é antes sim, fazer uma reflexão curta sobre o tema, dado que há muito assunto nesse assunto. Nota-se na obra uma grande parcialidade, posto que os acontecimentos sejam narrados a luz dos olhos do principal interessado em acreditar na traição de Capitu.Eu pessoalmente estou propenso a crer na inocência desta, pois, nota-se ainda na adolescência dos dois um certo destempero emocional em Bentinho, uma certa inconstância de caráter. No episodio do dandy por exemplo, isto esta bem claro:
CAPITULO LXXIII / O CONTRAREGRA
[...] Ora, o dandy do cavalo baio não passou como os outros; era a trombeta do juízo final e soou a tempo; assim faz o Destino que é o seu próprio contra-regra. O cavaleiro não se contentou de ir andando, mas voltou a cabeça para o nosso lado, o lado de Capitu e olhou para Capitu, e Capitu para ele; o cavalo andava, a cabeça do homem deixava-se ir voltando para trás. Tal foi o segundo dente de ciúme que me mordeu. A rigor, era natural admirar as belas figuras; mas aquele sujeito costumava passar ali, às tardes; morava no antigo Campo da Aclamação, e depois... e depois... Vão lá raciocinar com um coração de brasa, como era o meu! Nem disse nada a Capitu; saí da rua à pressa, enfiei pelo meu corredor [...]
CAPITULO LXXV / O DESESPERO
[...] Corri ao meu quarto, e entrei atrás de mim. Eu falava-me, eu perseguia-me, eu atirava-me à cama, e rolava comigo, e chorava, e abafava os soluços com a ponta do lençol.[...]
[...]Da cama ouvi a voz dela, que viera passar o resto da tarde com minha mãe, e naturalmente comigo, como das outras vezes; mas, por maior que fosse o abalo que me deu, não me fez sair do quarto e Capitu ria alto, falava alto, como se me avisasse; eu continuei surdo, a sós comigo e o meu desprezo. A vontade que me dava era cravar-lhe as unhas no pescoço, enterrá-las bem, até ver-lhe sair a vida com o sangue... [...]
Em minha opinião, deve se levar em consideração o papel do AGREGADO. Credito em grande parte a José Dias a culpa por Bentinho ter se tornado Casmurro. Explico. Na ânsia, e vendo a possibilidade de ir ter ao velho mundo, na condição de acompanhante de Bento, se este fosse estudar fora e não ao seminário, José Dias via em Capitu um grande entrave a este intento e procura da forma mais discreta e subserviente possível, que é bem seu estilo fazer com Bentinho o que Bentinho lhe pedira que fizesse com sua mãe: Plantar-lhe uma idéia, e arrancar-lhe a antiga. Bentinho ao perguntar ao agregado como vai Capitu recebe a seguinte resposta:
[...]-Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...
Pronto. Estava ali plantada a semente, ou, e mais corretamente germinada a semente.
[...] Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas [...]
Nada cresce mais forte no coração de um homem que uma idéia plantada, principalmente se encontra solo fértil. E se esta mesma idéia lhe lança ambigüidades sobre a veracidade das palavras e dos atos daquela (e) que lhe jura amor e para o (a) qual vão todos os seus pensamentos (e isto é tanto mais verdade quanto mais forte é o platonismo do amor) então se terá em cada mínimo detalhe, motivo para um duelo de morte. E mais tarde quando escrever as “reminiscências que me vierem vindo”, não poderei o fazer de outra a não ser aquela em eu me resguarde e justifique a dor do meus atos guiados pela duvida, de forma que para não dar de cara comigo mesmo e meus erros, encontre alguém para culpar.
Eis que canso. Façamos assim no próximo encontro, uma vez já tendo avaliado o personagem Bentinho segundo a minha ótica, passo a analisar Capitu. È, bem que eu sabia que era muito assunto dentro de um assunto. Não pude me encurtar. Até a próxima.
Wagner Mopho
Muito boa meu caro hehehehee Machado e suas dúvidas a deriva hehehehehee olha que qualquer dia (melhor noite) agente junta a turma e lê as velhas memórias todinhas hehehehehee
ResponderExcluirOBS: Por favor não dá vinho a Célio ou ele atrapalha-se todo rindo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk