Adélia Prado
O amor quer abraçar e não pode.A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
Amor, esse vírus
ResponderExcluirDizem, amor não tem eira nem beira
Não lhe dão oportunidade, portanto,
Mas além, à sua particular maneira,
O amor se expande para todo canto.
Pois não adianta lhe fazer barreira
Porque ele tem seu valor, o quanto.
E mesmo aquele que não o queira,
Um dia será coberto com seu manto.
E ele virá de cavalo ou trem um dia
Se apossa do coração e da mente
Se preciso fosse muito mais o faria.
Porquanto todo mundo, toda gente
Sem o saber é só isso que queria
E no fundo todo mundo amor sente.