Filmes sombrios, filmes solares
Donnie Darko é um adolescente problemático, tem crises
de sonambulismo e interage com a visão de um coelho de 1,70m que salvou a sua
vida, livrando-o de ser atingido por uma turbina de avião que misteriosamente caiu
em seu quarto. Leo é um adolescente cego que está descobrindo a sua sexualidade
e vê-se apaixonado por Gabriel, seu novo amigo da escola. O primeiro é personagem-título
da obra de 2003 que tornou-se cult. O segundo é o protagonista do filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho que foi
premiado no Festival de Berlim e tem recebido diversos elogios da crítica
especializada.
Dois extremos. Um retrato sombrio e perturbador. Outra abordagem solar e inspiradora. Dois filmes que
facilmente farão o telespectador refletir um pouco sobre a realidade, ou sobre as
pessoas que o cercam, por alguns dias ou semanas, dependendo do impacto que suas
histórias causarem.
Tenho uma tendência ao
pessimismo. Adoro os livros e os filmes que não têm um final feliz. As músicas
que tenham um pé na fossa e na tristeza também entram neste repertório. Parecem
mais condizentes com a nossa vida do que aqueles trabalhos que pintam uma existência
com grandes possibilidades de felicidade. Por outro lado, algumas obras surgem
como opções mais cativantes para amenizar um pouco o duro dia-a-dia tão duro e
lá estamos nós admirando canções com sonoridades mais alegres, vibrando com as
cenas musicais de uma comédia e romances de autores que sabem nos entreter como
poucos. Temos o bem e o mal dentro de nós. O universo se alimenta deste maniqueísmo.
Mas qual dos dois está certo? O mundo é feito desses opostos e também de seus
intermediários. E precisamos destas gradações representadas na arte como um
todo. Nada é somente 08 ou 80.
O tema da viagem do tempo abordado
com resquícios de genialidade por Richard Kelly vai martelar na sua mente. E se
aquele coelho estiver certo a respeito da viagem no tempo? E se a Vovó Morte
também estiver correta? E se cumprimos caminhos pré-estabelecidos por uma
grande força, toda a noção de divino e até da autonomia e do livre arbítrio humanos
cairiam por terra. Assim como todo o preconceito é desmistificado quando
estamos diante de uma história de amor tão sutil e incontestável como a
representada no trabalho dirigido por Daniel Ribeiro. Afinal se um garoto cego
tem despertado seu desejo por alguém do mesmo sexo sem nunca ter enxergado tal
pessoa isto coloca em xeque qualquer teoria de que a atração homossexual é
provocada por fatores externos (beleza, físico, discursos de terceiros,
influências de amigos), comprova que existe uma disposição natural, intrínseca
na pessoa.
E assim os filmes, sejam solares
ou sombrios, chacoalham nossas crenças, nos põe desconfiados daquilo que tomamos
por verdadeiro ou até mesmo nos tornam mais esperançosos dos indivíduos ou da
sociedade num geral, depende da abordagem tomada pelos realizadores em comunhão
com o elenco e equipe de suas obras cinematográficas.
E pensar que toda esta reflexão
surgiu a partir de dois personagens adolescentes, aqueles que, cotidianamente,
ignoramos ou vivemos a criticar pela sua puerilidade ou ingenuidade ou suas
preocupações exacerbadas e inerente passionalidade. Personas tão sombrias e
solares ao mesmo tempo e que refletem os filmes que as retratam com verossimilhança e maestria.
O Wesley, como sempre, propõe uma leitura original e instigante dos filmes que comenta. Ele é o melhor colaborador "não poeta" deste blogue. Sou fã de suas postagens e dou-lhe parabéns por mais esse excelente abordagem cinéfila. JAIR.
ResponderExcluirObrigado, Jair! Fico lisonjeado e que bom que tenha gostado
Excluirdos meus humildes textos para este blogue interplanetário. Grande Abraço!
vocês se garantem =]
ExcluirEsse filme é muito massa velho =]
ResponderExcluirMais uma crítica fuderosa!
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