Houve um tempo qu’eu me sentia
aflito quando não conseguia tirar algum poema do papel. Eu tinha tudo em
mãos: as palavras certas, a vivência, a observação, o sentimento. Mas
nada. Dias e dias inteiros ocupados para resultados medianos.
Quando eu era criança — e a indústria de engarrafamento de água mineral
ainda não tinha fincado sua bandeira no subúrbio — bebíamos água
filtrada. Em dias de limpeza ou troca de vela, nem adiantava correr com o
copo para a torneirinha. Havia todo o aparato: filtro, água, copo, sede. Não importava. Era preciso esperar a filtragem.
Com o poema também é assim. É preciso ruminá-lo antes de colocá-lo no
papel. Quando o poeta não faz a filtragem, a impressão que fico é que
ele comeu alguma coisa estragada e está com uma puta caganeira.
A quem interessar possa, elenco meu top 3 dos sintomas dessa diarreia: 1. percepção imediata do que o poeta anda lendo (na melhor das hipóteses é um sinal que lê pouco e se impressiona fácil; na pior: cara de pau mesmo); 2. poemificação de qualquer coisa (dos males, o menor: é um indício que ele tem uma vida de poucos eventos; e como caroço no angu: incapacidade de lidar com o insondável); 3. tendências biográficas (pelo lado bom: são rastros de uma arrogância mental sadia de quem acha que vive muito; pelo pior lado: cegueira na alteridade).
Mas no final das contas, como tudo começa com T e o mundo vai se acabar em merda mesmo, o segundo estômago serve apenas para fazer um cocozinho mais modelado, discreto e confortável ao cu. Há quem diga que bosta tem que feder, então... Joga tudo no ventilador logo.
Fred Caju
A quem interessar possa, elenco meu top 3 dos sintomas dessa diarreia: 1. percepção imediata do que o poeta anda lendo (na melhor das hipóteses é um sinal que lê pouco e se impressiona fácil; na pior: cara de pau mesmo); 2. poemificação de qualquer coisa (dos males, o menor: é um indício que ele tem uma vida de poucos eventos; e como caroço no angu: incapacidade de lidar com o insondável); 3. tendências biográficas (pelo lado bom: são rastros de uma arrogância mental sadia de quem acha que vive muito; pelo pior lado: cegueira na alteridade).
Mas no final das contas, como tudo começa com T e o mundo vai se acabar em merda mesmo, o segundo estômago serve apenas para fazer um cocozinho mais modelado, discreto e confortável ao cu. Há quem diga que bosta tem que feder, então... Joga tudo no ventilador logo.
Fred Caju
O cara é f... Bota o dedo na ferida e não tá nem aí.
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